Não sou um grande fã da
teledramaturgia brasileira. Mesmo assim, tudo que é artístico me comove. Sempre
que vejo filmes ou séries – desses sim eu gosto, e muito – me pego pensando no
quão bonito é o gesto de um ator de se entregar e sentir como se fosse outra
pessoa. Dessa maneira, algumas novelas ou elementos delas acabam por me agradar
também. Como é o caso de Daniella Perez.
Dany, carinhosamente chamada por
entes queridos e admiradores, me foi “apresentada” em meados de 2008. Eu tinha
doze anos, e me lembro de uma conversa na casa de minha avó na qual minha mãe
acabou por citar “aquela atriz que foi morta pelo colega de cena” – para quem
não sabe, a filha de 22 anos da autora Glória Perez foi brutalmente assassinada
em dezembro de 1992 por Guilherme de Pádua, com quem trabalhava na novela De Corpo e Alma (escrita pela própria
Glória), e por sua mulher Paula Thomaz – e aquilo me deixou chocado. Como
curioso que sempre fui, comecei a pesquisar sobre o assunto – o crime em si – e
acabei por conhecer Daniella, a vítima.
Tive uma certa relutância em
escrever esse texto, por muito tempo. Talvez porque muitas vezes me pareceu de certa
forma inconveniente referenciar uma pessoa que tenha sofrido um crime tão
absurdo, como se fosse uma ofensa à memória da mesma. Então, percebi que tudo é
uma questão de ponto de vista. Era preciso que eu, que nasci quatro anos após a
sua morte, conhecesse seu trabalho. E assim fui apresentado à Daniella, a atriz
e bailarina.
Ao contrário da dança, a carreira
de atriz foi curta – foram apenas quatro novelas, sendo que em Kananga do Japão
(Rede Manchete – 1989) Perez fez um papel pequeno – mas frequentemente lembrada
por quem acompanhou. Ainda mais numa época em que o principal meio de
comunicação do país era a TV. A internet, no entanto, foi quem quebrou meu
galho (e bendito seja o YouTube!).
Em seus papeis mais marcantes – a
jornalista Yara em O Dono do Mundo
(1991) e a sensual dançarina Yasmin em De Corpo e Alma (1992) – Daniella
mostrou talento visto em pouquíssimas atrizes dos dias atuais. O corpo tinha
molejo, e o rosto era expressivo, digno de quem sabia se caracterizar. Ainda
estreante quando foi tirada desse mundo, se tivesse tido a oportunidade de se
exercer, teria se tornado uma grande atriz.
(cena da novela "De Corpo e Alma")
Fica aqui, então, o meu encanto
por essa jovem. A vida foi ceifada muito cedo, mas o talento perlonga. Na
memória de quem puder se lembrar e na inteligência de quem quiser conhecer.
PS: Créditos ao Paulo Lovo e à Gabriela Miranda, que escolheram as
fotos desse texto. Obrigado, queridos.
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